terça-feira, 29 de abril de 2008

O homem que não falava Carnatalês.

A turma de Letras da UnP, 3º período, onde fui participar de um bate-papo semana passada gostou dessa crônica abaixo. Em homenagem a eles, publico aqui.

NÃO! Não vou pegar uma latinha e bater uma na outra! Não quero! Muito obrigado. Também não vou chupar toda e manivela pra mim é uma engrenagem e não uma dança. Gramaticalmente, eu vos digo: o que arria, arria. Não arreia! Piuí, piuí, piuí, tira a mão do meu ombro. Maria Joaquina de Amaral Pereira Góis não contribói com porcaria nenhuma! No máximo, ela contribuiria com alguma coisa, mas acredite, não é o caso.

Vou me apresentar. Eu sou o deslocado, aquele que está no lugar errado e na hora errada, o corpo estranho, o último natalense que não vai passar pelo corredor da folia, nem assistir de cima a batalha num ostentoso e feliz camarote.

Não vou levantar poeira nem estar presente quando rolar a festa. Não quero presenciar o grandioso espetáculo de exibicionismo social e de conquista primitiva, quando os machos da espécie recuperam suas raízes tribais, utilizando-se inclusive de violência no ritual da corte, empreendido sobre fêmeas em período de cópula. Vou perder o fenômeno da sociedade conservadora e preconceituosa que se despe de seus valores arcaicos durante três dias, se desempacota e vive um breve e alegre período libertino para, na segunda-feira seguinte, se empacotar novamente e vestir sua máscara de hipocrisia e podre tradição.

Vou para o exílio! Serei refugiado de algum país remoto, onde não se fale esse idioma obrigatório. Uma nação que, pelo menos no próximo fim de semana, não seja colônia da Bahia, que não considere Salvador a capital de um reino. Tenho que fugir. Vou embora daqui! Fico ridículo de abadá. Saio e só volto quando a sociedade se empacotar novamente, quando essa cidade for um lugar mais ou menos seguro outra vez. Quero emergir no obscurantismo e só vir à tona quando pudermos respirar em paz sem ser sufocados por refrões opressores.

Sei do tamanho de minha renúncia. Entendo que abro mão de toda a devassidão de ocasião, da atmosfera libidinosa, do sexo, das drogas, da alegria inconsciente, inconseqüente e sem sentido que fizeram desse país o que ele é hoje! Por isso, se eu ficar, não me deixem cair em tentação. Que eu não ouça o canto da sereia das belas natalenses em flor, oferecendo-se ao som daqueles cânticos odiosos, verdadeiros mantras impregnados de vogais: “aê-aê-aê, eô-eô-eô”! NÃO! Se eu fraquejar me amarrem, mas não num cordão de isolamento. Internem-me, mas não na colônia pinel. Não quero ser um burro elétrico, correndo atrás do trio. Vou fugir dessa cidade. Comigo ninguém pode e eu odeio mamãe sacode!

Vou pra algum lugar onde eu não precise me comportar como um zumbi, participando de toda aquela alucinação coletiva engendrada por alguns poucos para os muitos que pipocam. A política do circo sem nenhum pão. Não, não quero ser um zumbi. Quero sair para ver e curtir o que gosto. Quero sentir-me vivo, com sangue correndo nas veias, ouvindo música que me agrade. Porque atrás do trio elétrico, amigo, só vai quem já morreu.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Padre Mary Poppins

Anúncio Fantasma para o Google.

Criação de Márcio Nazianzeno e Daniel Minchoni.

Aliás, Minchoni definiu muito bem esse caso com a frase: "A história desse padre é uma mistura de Mary Poppins com E o Vento Levou."
Muito bom!


quinta-feira, 24 de abril de 2008

Texto lento

Eu queria escrever uma crônica lenta, cadenciada, suave, sem pressa, gritaria, histeria e dia-a-dia. Uma crônica marcada, compassada, como uma valsa, um pra lá, dois pra cá, um pra lá, dois pra cá. Não seria triste, nem melancólica, apenas teria um ritmo diferente do que tenho visto por aí. Seria feliz, mas de uma alegria contida, autêntica, bela. Algo bucólico, com cheiro de chuva, de grama molhada, suja de areia, queimada de sol, impregnada de sal.

Eu queria escrever um texto gostoso como um abraço demorado, agradável como um fim de tarde entre amigos, necessário como um poema, revigorante como uma sesta. Um texto que provocasse bem-estar com o efeito multiplicador de um sorriso, a espontaneidade de um elogio sincero e desinteressado, o impacto de uma surpresa boa.

Eu queria escrever algo que fosse um elogio ao ócio, um tratado do descanso, um manifesto do direito sagrado da preguiça dominical ou do sono fora de hora. Um documento sobre o pôr-do-sol no Potengi ou o nascer da lua em Ponta Negra, que transmitisse em poucas linhas o silêncio reconfortante, a leveza de um carinho, a sensação de liberdade que só uma rede na sombra pode dar.

Uma crônica para ser lida em câmera lenta. Que despertasse reações serenas, mas duradouras. Queria ordenar palavras de tal maneira, com tal maestria que elas ganhassem o sabor daquele beijo que você tanto batalhou, muito ansiou e finalmente conquistou.

Eu queria escrever um texto bonito. Um lava-jato da alma como uma boa ação, um gol no finalzinho, um telefonema inesperado no meio da noite. Eu queria escrever uma crônica que pudesse dar sua modestíssima contribuição para que, por uma minúscula fração de tempo, um instante que seja, provoque a ligeira sensação de tornar o seu dia um pouquinho melhor.

Eu queria.
Juro que queria.
Mas como não consegui, acho bom você se contentar com esse mesmo.

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Para todos aqueles que estão na correria, que foram dominados pelo estresse, que ficaram presos no trânsito a caminho do trabalho, que são publicitários e que vêem essa cidade crescer em ritmo incômodo e acelerado.

Depois da tempestade

Ontem caiu a maior chuva dos últimos 10 anos na cidade do sol. As fotos dos jornais hoje são impressionantes. Carros boiando por toda parte, um monte de árvores e postes derrubados, ruas e casas alagadas.

Mas hoje de manhã o sol saiu e, eu que acordei cedo pra pedalar, flagrei essa imagem aí. Um arco-íris em Ponta Negra. Legal, né?


Aliás, que dia quente dos infernos fez hoje!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

blogue do carlosfialho ponto com

- Como assim um blog?

- Blog, pô!

- Desses que as meninas atualizam como um diário?

- É. Só que não vai ser exatamente diário. Vai ter dias que eu não vou ter tempo de escrever.

- Mas você sabe que isso é coisa de menina, né?

- Não. Um monte de gente que eu conheço tem.

- Tipo, quem?

- O Pablo Capistrano tem.

- O Pablo tem um site.

- O Marlos tem.

- O Marlos tem uma página com seu portfólio virtual.

- O Foca...

- É um portal de música.

-... ?

- Há quanto tempo você tem essa porra?

- Faz umas semanas aí.

- E divulgou pra alguém?

- Não. Queria ver como é ser meu único leitor.

- Você é doente.

- Que nada. É legal. Tipo, ninguém entra pra fazer comentários ruins e tal.

- Puta merda! Cala a boca! Vamos pensar. Se você não divulgou pra ninguém, é possível que ninguém tenha acessado ainda.

- É.

- Então faz assim: vai lá e tira do ar.

- Tirar do ar? Deletar o bichinho?

- Exatamente. Senão as pessoas vão começar a acessar e aí... bem, aí será tarde demais.

- Você acha?

- Eu tenho certeza.

- Tá. Vou tirar do ar.

- Mas antes...

- O que?

- Me diz o endereço pra eu dar uma olhada.

- www.blogdocarlosfialho.blogspot.com

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Cantos das Cidades - o início

Quando a gente lança um livro, fica muito, muito feliz mesmo. Aliás, não é nem o lançamento em si, quando a gente divide com os amigos e leitores, o resultado do trabalho, que nos deixa mais exultantes. O momento em que o danado chega da gráfica e cai em nossas mãos, pronto, impresso, bonito, com suas cores e laminações, orelhas e reservas de verniz, miolo e prefácio, forma e conteúdo, dizendo para nós: “Ó eu aqui, ó. Cheguei!”, nos deixa mais feliz.

E a razão de tanta felicidade talvez se deva ao tempo de gestação, o esforço empreendido antes do livro ficar pronto, toda a trajetória desde a idéia original até a concretização, quando a idéia finalmente sai no papel.

O livro que estou escrevendo agora, por exemplo, surgiu em minha mente em 2004. na época, fui influenciado por dois outros livros e autores: “Imaginário Cotidiano” de Moacyr Scliar e “Contos Bregas” de Thiago de Góes. Tive a idéia de escrever um livro de contos em que eu pudesse pinçar uma frase de uma canção e, a partir dali, desenvolver um conto divertido.

A princípio era uma mistura das idéias de Moacyr e Thiago, uma vez que o primeiro desenvolveu os contos de seu livro a partir de manchetes de jornal e o segundo utilizou as músicas como epígrafes e fontes de inspiração.

No entanto, eu queria ir mais além. Para ser diferente e minimamente original, eu precisava fazer algo mais do que isso. Então decidi que eu escolheria canções de bandas ou intérpretes originários de todos os estados do Brasil e o conto que cada um deles inspirasse seria passado em sua cidade de origem. Começou a ganhar corpo assim o livro “Cantos das Cidades”.

Para que o resultado pudesse ser o mais fiel possível à realidade das cidades, verossímil, real, pedi a ajuda de amigos nativos de cada uma das cidades-cenários do livro. O processo é o seguinte: escrevo um primeiro tratamento do conto, depois submeto a alguém natural da cidade para que ele possa fazer alterações, correções, sugestões e acréscimos. Feitas as adaptações, esse colaborador se torna co-autor do conto. Com isso, teremos um livro com 27 autores.

Nenhum dos co-autores pode ser escritor, para que eu não pegue carona no carisma ou no nome de ninguém, mas tem que saber escrever ou exercer alguma atividade ligada às letras ou ter a leitura como hobby.

Nesse meio tempo, de 2004 anos pra cá, acabei me envolvendo com outros projetos de livros que caminharam mais depressa e pude terminar antes. Dessa forma, em 2006, lancei “É Tudo Mentira!” e nos próximos meses vou lançar “Mano Celo – O Rapper natalense”.

Porém, com esses dois projetos anteriores concluídos, o “Cantos das Cidades” ganhou um novo ânimo e agora acelera o passo. Dos 40 contos finais (não, não errei o número de estados. É que algumas cidades mais importantes, como Natal, por exemplo, terão direito a mais de uma história no livro) já concluí 12 e outros 3 estão sendo alterados e enriquecidos por colaboradores, devendo ser entregues no início de maio.

Aqui neste blog, terei o maior prazer em relatar o passo-a-passo da produção do livro para os curiosos, para servir de registro pessoal e também de estímulo, dando um gás extra para que o livro fique pronto em breve.

E vâmu pra frente!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Aviso aos navegantes.


Quando você quer beber algo no café da manhã e descobre que na sua geladeira só tem uma Heineken e NADA MAIS, é sinal que você precisa ir urgentemente ao supermercado. Quem avisa, amigo é.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Este é o primeiro post do resto de nossas vidas!

Sucumbi! Já não era sem tempo. Finalmente tenho um blog para chamar de meu. Não preciso mais sair por aí com a camisa e o boné do MSB, mendigando bytes em sites (ou sítios pra ficar mais adequado) que são verdadeiros latifúndios digitais, gritando palavras de ordem e promovendo assentamentos clandestinos em colunas de amigos.

Agora vou ficar por aqui mesmo e plantar meu conteúdo devagarzinho. Aos poucos, vou aprendendo a mexer nas ferramentas e cultivar umas crônicas, umas notas, uns aforismos, umas referências e vender o excedente para os parceiros como os sites da Diginet e dos Jovens Escribas.


A primeira vez que ouvi falar de blogs foi através de Paulo Celestino em 2001. Ele recomendou que eu pusesse um no ar para postar minhas crônicas. Preferi publicar um livro e acho que as coisas funcionaram bem desde então. E minha mãe que dizia que essa teimosia não ia me levar a lugar nenhum!


Mas você (Alô! Tem alguém aí?) deve estar se perguntando: “Por que djabo ele resolveu finalmente ter um blog?!”

Pois é. Por que?

É que eu quero deixar registrado aqui o dia-a-dia da produção dos meus próximos livros. Estou com um livro pronto que deverá sair nos próximos meses, chamado “Mano Celo – Rapper Natalensis”. E estou escrevendo outro chamado “Cantos das Cidades”.

Além desses, estou envolvido com os novos livros de Nei Leandro de Castro, Pablo Capistrano, Tarcísio Gurgel, Márcio Nazianzeno e Daniel Sour, além do novo CD dos Poetas Elétricos. Todos esses projetos estão previstos para este ano.

Será que vai dar? Se der, conto aqui. Se não rolar, conto também e ainda acuso os possíveis culpados pra todo mundo ficar sabendo!

Valeu!
E até sempre.
Carlos Fialho